ANORGASMIA
De acordo com
pesquisa recente realizada pelo Instituto Kaplan - Centro de Estudos da
Sexualidade Humana de São Paulo - a cada 100 mulheres que buscam tratamento, 70
afirmam que não conseguem ter orgasmos.
Antes, a relação
sexual tinha como objetivo a satisfação masculina. Hoje, apesar de muitos tabus
sexuais terem sido derrubados, ainda é grande o número de mulheres que sofrem
na cama. Mitos e conceitos equivocados sobre o orgasmo, ou melhor, sobre a sexualidade
de forma geral, sempre estiveram presentes em nossa cultura, onde a mulher
deveria ser um ser assexuado, sem desejo, sem tesão, à disposição do outro.
Hoje foi descoberto
que o orgasmo independe da região que o desencadeia, podendo ser provocado pelo
estímulo de qualquer região do corpo. Houve tempo em que se acreditava
existirem dois tipos de orgasmos: o clitoriano e o vaginal.
Atualmente, se
percebe uma busca descontrolada pelo orgasmo, que passou a ser o objetivo único
de uma relação, esquecendo-se o prazer do relacionamento, de estar com
determinada pessoa. Praticar sexo é uma escolha; ter prazer, uma possibilidade.
Essa obrigatoriedade infundada na busca do prazer-gozo e não pelo prazer de
estar vivenciando tal situação, tira a pessoa do contato com a relação,
passando a ser mera espectadora.
Conceito
A anorgasmia é a
dificuldade em atingir o orgasmo, mesmo que haja interesse sexual e todas as
outras respostas satisfatórias para a realização do ato. Ocorre com freqüência
entre as mulheres – estudos indicam que seria entre 50 e 70% dos casos. Ou
seja, a mulher aproveita as carícias e se excita, mas algo a bloqueia no
momento do orgasmo.
Muitas mulheres negam
a ausência do orgasmo como uma forma de defesa. Assim, mentem, fingindo um
prazer que não existe. Tal comportamento deve ser repensado, pois ao fingir
para si própria, ela está se privando da obtenção de um prazer e da
possibilidade de desvendá-lo por completo.
Além disso, a
anorgasmia pode trazer conseqüências negativas. A mulher pode adquirir aversão
sexual devido a realização de sexo sem prazer, e sem conseguir adequada
lubrificação para o ato, pode ocorrer dor na relação.
A mulher não possui,
como o homem, um ciclo sexual definido constituído por excitação, ereção,
ejaculação e orgasmo. Ela pode ter desejo, mas mesmo assim, não chegar ao
orgasmo. Mas, é preciso ressaltar, que a mulher quer ser amparada, acolhida.
Dessa forma, o sexo pode satisfazê-la sem que chegue ao orgasmo
Etiologia
Dentre os fatores que
levam a tal quadro, destaca-se de forma praticamente integral os aspectos
psicossociais. A questão orgânica tem baixa relevância, ficando em torno de 5%
dos casos.
Psicossociais: falsas
crendices, falta de informação, tabus, religião, estrutura de valores que
supervaloriza a sexualidade e o desempenho sexual, medo de ser abandonada ou
engravidar, experiências traumáticas (inclusive obstétricas), falta de
intimidade com o próprio corpo e/ou com o parceiro, inexperiência, falta de
tempo ou de um local adequado, auto-exigência exacerbada, envelhecimento,
culpa, ansiedade, depressão, tensão corporal, educação sexual castradora,
desinteresse, insatisfação corporal, baixa auto-estima, excesso de contenção,
dificuldade do cotidiano e dificuldade de estar inteira, tranqüila e a vontade
no contato com o outro no momento da relação sexual, entre outros.
Orgânicas: algumas
doenças, disfunções hormonais, uso imoderado de álcool ou drogas psicoativas e
dores na relação.
Outras causas dizem
respeito à má-formação congênita - que pode impedir o acesso ao clitóris -,
hipertrofia dos pequenos lábios – que pode encobrir o acesso à vagina-, entre
outras.
Tratamento
O enfoque principal é
a disfunção, devendo-se fazer uma leitura do conflito, a fim de saber se existe
alguma dificuldade emocional ou psicológica, ou se o problema é físico.
O objetivo é combater
a ansiedade existente, desmistificando crenças falsas, e trabalhando os
aspectos psicológicos que não permitem um completo funcionamento corporal.
Propõe-se que a mulher tome ciência dos seus impulsos sexuais, de modo
ajudá-la, sem a obrigação do orgasmo, a liberar emoções e viver a
espontaneidade de sentir prazer. Para tanto, a psicoterapia pode estar baseada
numa terapia individual, terapia de casal ou, ainda, no conjunto dos dois
processos.
A terapia individual objetiva
criar condições para ampliar o autoconhecimento e possibilitar o prazer consigo
mesma, a partir de um aprendizado sobre como é construído tal sintoma. Ou seja,
o que esse quadro tem a contar sobre a pessoa, sobre a sua forma de funcionar
na relação e com o meio. É na terapia, portanto, que se revê falsos conceitos e
se fornece orientação, possibilitando novas perspectivas, admitindo-se sua
associação a exercícios e, muito raramente, ao uso de medicação.
A terapia de casal
objetiva facilitar a comunicação do mesmo, além de mediar um conhecimento maior
sobre o funcionamento da relação, ajudando a descobrir, entre outros fatores,
de que forma o casal interage em sua vida cotidiana, e como isto se reflete na
dinâmica sexual.
Muito freqüentemente,
a mulher passa a ter maior curiosidade sobre o próprio corpo. Faz-se importante
que ela se conheça, se toque, saiba do que gosta e o que não lhe agrada. E,
essencialmente, pedir ao parceiro que a “acenda”. Através do auto-conhecimento,
a auto-estima pode ser resgatada. Essa é uma forma de descobrir o caminho para
que se possa fazer sexo sem mitos e transformá-lo em algo natural, sem ter medo
de gostar de sexo e do que o parceiro vai achar disso.
A mulher precisa dar
importância à sua sexualidade, tocar o seu corpo e descobrir o que lhe dá
prazer, dizendo ao parceiro o que ela precisa, o que está faltando e se
interessando em saber o que ele gosta. O orgasmo é uma conquista, sexo é
comunicação e entrega.
A sexualidade e a
forma que a mulher se relaciona com ela é produto de eventos que,
aparentemente, nada têm a ver com sexo. Assim, a superação de um quadro como
esse leva ao aprendizado e ao autoconhecimento, provocando transformações além
da sexualidade. Atingir o orgasmo é elemento de um processo de crescimento que
dura a vida toda.
Não se pode definir
uma mulher com anorgasmia quando o parceiro possui ejaculação precoce já que,
muitas vezes,o fato do homem ejacular rapidamente acaba não permitindo que a
mulher tenha tempo suficiente para alcançar o orgasmo.
Tanto nos casos
orgânicos como nos psicológicos, a terapia é indicada. Por mais que a origem
seja somente orgânica, ela pode estar interferindo, poluindo as outras esferas
do seu contato com o parceiro. Dessa forma, a maioria do universo feminino pode
se favorecer com a reeducação sexual, já que muitas não aprenderam a se aceitar
e se conhecer. Fonte: abcdasaude
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