PARALISIA
FACIAL PERIFÉRICA
A paralisia facial periférica é um
distúrbio de instalação repentina, sem causa aparente, marcado pelo
enfraquecimento ou paralisia dos músculos de um dos lados do rosto. Ela se
instala em virtude de uma reação inflamatória envolvendo o nervo facial (sétimo
par dos nervos cranianos), que incha e fica comprimido dentro de um estreito
canal ósseo localizado atrás da orelha. Essa alteração o impede de transmitir
os impulsos nervosos para os músculos responsáveis pela mímica facial,
provocando incapacidade funcional e assimetria da expressão fisionômica, que
resultam em danos estéticos muito desagradáveis.
Também conhecida por paralisia
de Bell em homenagem a Charles Bell, médico-cirurgião e anatomista escocês que
primeiro descreveu a doença, suas características clínicas são bastante
típicas. Ou seja: a pessoa apresenta dificuldade, em maior ou menor grau, para
realizar movimentos simples, como franzir a testa, erguer a sobrancelha, piscar
ou fechar os olhos, sorrir e mostrar os dentes, pois a boca se move apenas no
lado do rosto não paralisado.
Em grande parte dos casos, a
paralisia facial periférica costuma regredir sem tratamento, à medida que o
inchaço do nervo regride espontaneamente. O mesmo acontece com os
recém-nascidos que apresentam sinais da doença, quando ocorre compressão do
nervo facial durante o trabalho de parto.
Fatores de risco
A paralisia facial periférica pode acometer homens e mulheres de
qualquer idade. A incidência costuma ser maior depois dos 40 anos e pouco comum
na infância e na adolescência. Ao que tudo indica, os casos se tornam mais
frequentes em pessoas com história familiar da doença (predisposição genética),
durante o terceiro trimestre da gravidez e na primeira semana após o parto, nos
portadores de diabetes e de
infecções respiratórias, como gripes e resfriados.
Causas
Ainda não foi identificada a causa exata da paralisia facial
periférica. No entanto, os estudos sugerem que o quadro pode estar
correlacionado com uma infecção por bactérias (doença de Lyme) ou vírus que
atingem o nervo facial, tais como o vírus do herpes
simples (labial e genital), e do herpes
zóster (varicela/catapora), o
Epstein-barr (mononucleose), o citomegalovírus, o
adenovírus e os vírus da rubéola e da
gripe.
Estresse, fadiga extrema, mudanças bruscas de temperatura, baixa
da imunidade, tumores e traumas, distúrbios na glândula parótida, otite
média podem
também estar envolvidos no aparecimento da doença.
Sintomas
Como há dois nervos faciais, um
para cada lado da face e, em geral, só um fica prejudicado, o sintoma que mais
chama atenção é a perda súbita, parcial ou total dos movimentos de um lado da
face, mal que pode agravar-se durante alguns dias seguidos.
No entanto, dada a complexidade
de funções que desempenha o nervo facial, outros sintomas podem surgir de
acordo com a gravidade da lesão. Entre eles, merecem destaque: dor nas
proximidades da orelha e na mandíbula, comprometimento do paladar em parte da
língua, incapacidade para fechar o olho, erguer a sobrancelha ou franzir um
lado da testa, hipersensibilidade auditiva (hiperacusia), dor de cabeça e de
ouvido, menor produção de lágrimas (olho seco) e de saliva (boca seca), ou
lacrimejamento e salivação abundantes. São sinais também da doença a flacidez
facial responsável pela dificuldade para soprar, assobiar e conter líquidos
dentro da boca.
Diagnóstico
O diagnóstico baseia-se na
avaliação clínica e neurológica do paciente. Quando necessário, porém, a
eletroneuromiografia é um exame útil para estimar a gravidade das lesões do
sistema nervoso periférico e registrar a atividade elétrica dos nervos e
músculos envolvidos.
Para melhor conduzir o
tratamento, é fundamental estabelecer o diagnóstico diferencial entre a
paralisia facial central e a doença periférica. No primeiro caso, a lesão no
nervo craniano ocorre em seu trajeto dentro do cérebro e pode ser determinada
por acidente vascular cerebral, tumores, aids, diabetes, por exemplo, mas a
perda dos movimentos atinge apenas o terço inferior de um lado da face.
Portanto, a pessoa consegue franzir a testa, erguer a sobrancelha, abrir e
fechar os olhos, mas a boca entorta, o que dificulta a articulação das palavras
e a mastigação. São também sinais importantes para o diagnóstico diferencial o
déficit motor unilateral, principalmente nos braços e pernas, e a dificuldade
para permanecer em pé.
Na paralisia facial periférica,
a lesão ocorre depois que o nervo deixou o cérebro e compromete todos os
movimentos mímicos de metade da face, não importa se do lado direito ou do
esquerdo (raramente dos dois lados), sem afetar a condução nervosa para os
músculos de outras regiões do corpo.
Exames como a ressonância
magnética e a tomografia computadorizada são recursos que podem ajudar a
estabelecer o diagnóstico diferencial da paralisia facial e evitar
complicações.
Complicações
A principal complicação da
paralisia facial periférica é o ressecamento do olho que permanece aberto no
lado paralisado. Essa inaptidão para piscar ou fechar o olho pode causar lesões
permanentes na córnea que levam a graves problemas de visão, inclusive
cegueira.
Outra complicação é a
sincinesia olho/boca, ou seja, a ocorrência de movimentos involuntários, mas
simultâneos, provocados por um comando este, sim, voluntário de um grupo
muscular distinto. Por exemplo, a pessoa sorri e, sem querer, fecha o olho do
lado afetado ou, então, ergue o canto da boca, quando fecha os olhos.
Embora rara, a sindrome de
Bogorad, ou reflexo gustolacrimal, é outra sequela que envolve a regeneração
defeituosa do nervo facial. Também conhecida por “síndrome das lágrimas de
crocodilo”, interfere no funcionamento das glândulas lacrimais e salivares. O
sinal mais evidente do problema é a pessoa lacrimejar enquanto se alimenta.
Tratamento
O tratamento da paralisia facial periférica idiopática é
sintomático e inclui uso de medicamentos, fisioterapia e fonoaudiologia. Não
existe, entretanto, uma conduta terapêutica padrão para a doença. Tudo depende
do tipo e extensão do dano sofrido pelo nervo facial, das condições clínicas e
da idade do paciente. Portanto, de acordo com as particularidades de cada caso,
o mais comum é prescrever medicamentos anti-inflamatórios (corticosteroides)
para reduzir o edema do nervo facial e recuperar a inervação dos tecidos. Esse
esquema funciona melhor quando introduzido assim que surgem os primeiros
sintomas. Ainda que a infecção por vírus, especialmente pelo herpesvírus, possa
estar associada ao aparecimento da doença, as drogas antivirais, isoladamente,
não demostraram ação benéfica nesses quadros.
Durante todo o tratamento, os
olhos exigem atenção especial. Como os portadores do transtorno apresentam
dificuldade para fechar os olhos e menor produção de lágrimas, a aplicação de
colírios lubrificantes (lágrimas artificiais), várias vezes por dia, e de
pomadas oftalmológicas especiais à noite, assim como o uso de tampões para
manter o olho fechado são medidas indispensáveis para manter o olho hidratado e
evitar lesões graves na córnea. Exercícios fisioterápicos e fonoterapia são
importantes para estimular a musculatura da mímica facial, da mastigação e da
fala, assim como para evitar contraturas e atrofia das fibras musculares.
Não existem evidências de que a
cirurgia para descompressão do nervo possa representar alguma vantagem no
tratamento da paralisia facial periférica. Já a aplicação de botox pode
promover o relaxamento dos músculos faciais com contraturas e espasmos
involuntários.
A paralisia facial periférica
idiopática é uma doença de bom prognóstico, uma vez que a maioria dos pacientes
pode recuperar-se sem tratamento. No entanto, com tratamento a recuperação
costuma ser mais rápida, e menor o risco de complicações. O desejável é que ela
ocorra durante as três primeiras semanas a contar do início dos sintomas.
Quando isso não acontece, o risco de sequelas permanentes aumenta.
Recomendação
A Organização Mundial da Saúde define saúde como “estado de
completo bem-estar físico, mental e social, e não somente a ausência de
enfermidade ou invalidez”. Diante
disso, embora cerca de 80% dos pacientes recupere completamente (ou quase
completamente) os movimentos faciais, durante algum tempo eles apresentam
transtornos funcionais e estéticos que, sem dúvida, interferem na
qualidade de vida e podem ter reflexos no desempenho social, psicológico e
profissional dos portadores da enfermidade.
Por isso, ao primeiro sinal de
alterações nos músculos da face, a pessoa deve procurar um médico e seguir suas
recomendações. Nas fases iniciais da doença, os músculos ainda não passaram por
um processo de atrofia que, certamente, prejudicará a recuperação. Fonte:
drauziovarella
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