APRENDA A TOMAR
MEDICAMENTOS CORRETAMENTE
Aquele papo de que medicamentos
não podem ser misturados com bebidas alcoólicas não é apenas zelo materno. A
associação realmente pode cortar a eficácia medicamentosa ou, até mesmo,
potencializar os efeitos do álcool. Dr. Marcelo Gomes, diretor de área terapêutica
da empresa Norvatis, explica que ambos são metabolizados pelo fígado e quando
ingeridos simultaneamente dividem a capacidade de ação do órgão.
“Quando chegam as duas demandas no fígado, o
órgão não sabe qual metabolizar primeiro, consequentemente acaba não exercendo
seu papel por completo e uma das metabolizações é prejudicada. Como o álcool
geralmente é consumido em maior quantidade, o fígado tenta metabolizá-lo
primeiro e não concentra sua atividade na metabolização do remédio, por isso
acaba diminuindo a eficiência medicamentosa. Mas também não consegue absorver
totalmente o álcool e parte dele fica circulando por mais tempo na corrente
sanguínea, o que potencializa o estado de embriaguez”, explica Gomes.
O álcool pode ser o vilão mais
conhecido, mas não é o único. Mesmo uma refeição qualquer pode prejudicar a
ação ótima de remédios. A eficiência dos princípios ativos é prejudicada
logo após a ingestão, ainda na etapa de absorção, antes mesmo de começar o
processo de metabolização. “Alguns medicamentos necessitam de ambiente mais
ácido, como o do estômago, para serem absorvidos com facilidade. Só que após as
refeições, o órgão produz o suco gástrico, que pode tornar o local ácido demais
e eliminar os efeitos medicamentosos. Além disso, assim como o problema do
álcool no fígado, os alimentos dividem espaço com os remédios no estômago, o
que acaba atrasando a absorção medicamentosa”, explica Gomes.
O leite, em especial, pode
prejudicar os efeitos de alguns remédios por outro mecanismo. Antibióticos feitos
à base de tetraciclina, por exemplo, não devem ser ingeridos com a bebida, pois
esse composto se liga e forma aglomerações com o cálcio, muito presente nesse
alimento.
Então, não se deve tomar remédios perto do horário das
refeições?
Não é bem assim. De fato, tomar
remédios com o estômago vazio (pelo menos uma hora antes das refeições ou duas
horas após ingerir alimentos) pode garantir absorção mais rápida e completa.
Porém, em contrapartida, o jejum facilita a intolerância gastrointestinal caso
o remédio em questão possua teor de acidez muito elevado. Por isso, deve-se
seguir à risca as orientações do médico e da bula, pois alguns medicamentos
devem ser ingeridos justamente após as refeições.
Mas existem inúmeras razões
para um medicamento ser ingerido em determinado horário. Aqueles com a
função de eliminar gordura têm melhor resultado quando consumidos após as
refeições, por exemplo. Dr. Paulo Aligiere, assistente médico da
Fundação do Remédio Popular de SP, explica que o modo como o remédio deve ser
ministrado depende da natureza química da substância e pode variar muito.
“Durante a fase de testes de um medicamento novo, descobre-se qual o melhor
horário para administrá-lo, perto ou longe das refeições, a fim de
aproveitar ao máximo a sua absorção”, explica.
Independentemente da natureza
química, uma orientação permanece: os fármacos orais devem ser ingeridos com um
copo cheio de água. Além de ajudar na dissolução do fármaco, facilita a
passagem pelo esôfago, evitando que o medicamento fique entalado na garganta.
Outros fatores que comprometem a eficiência medicamentosa
Não são só bebidas e alimentos
interferem na absorção dos remédios. A interação medicamentosa também pode
comprometer a eficiência. Como o nome já diz, essa interação nada mais é do que
a relação entre dois medicamentos que foram administrados concomitantemente.
Nem sempre essa mistura é eficiente, podendo aumentar ou diminuir os efeitos
terapêuticos de um ou de outro. Antiácidos, que comumente são tomados junto com
medicamentos que irritam o estômago, por exemplo, acabam diminuindo o efeito
dos remédios, pois diminuem a absorção do princípio ativo, que geralmente tem
pH ácido.
Nem todas as mulheres sabem,
mas antibióticos ministrados junto com anticoncepcional podem cortar o efeito
do contraceptivo. Segundo Aligiere, os antibióticos modificam a flora
intestinal e podem interferir na absorção e aproveitamento dos componentes
hormonais das pílulas. “Sempre que se prescreve um destes medicamentos para
mulheres em idade fértil, a usuária deve fazer prevenção da gravidez por um
método adicional, além da pílula”, adverte.
Alguns problemas orgânicos
também podem colocar em xeque a absorção de dois medicamentos ingeridos
concomitantemente. “Pessoas que se submeteram a cirurgia bariátrica, por exemplo,
não conseguem absorver grande quantidade medicamentosa no estômago. Se tomarem
dois medicamentos ao mesmo tempo, eles não terão os efeitos completamente
usufruídos”, diz Gomes.
É sempre importante avisar os
médicos sobre todos os medicamentos de uso frequente, principalmente os
anticoncepcionais, que por serem tão assimilados no cotidiano muitas vezes não
são considerados remédios de uso contínuo. Lembre-se também de falar a respeito
de problemas crônicos que possui, assim o profissional pode prescrever um
remédio que não interfira em outros tratamentos concomitantes.
Erros comuns
Quando o mal-estar gástrico
surge, é comum recorrer ao uso de sal de frutas efervescente para aliviar o
desconforto. Geralmente, ele é misturado em um copo de água, onde começa a
efervescer, e em seguida é ministrado ao paciente. Só que nem todos esperam as
“borbulhas” cessarem para começar a ingerir. Pelo contrário, é comum que
pacientes associem, erroneamente, a gaseificação do remédio à seu intervalo de
ação. Porém, o correto é esperar que o sal de fruta seja totalmente dissolvido
na água, assim ele será aproveitado por completo.
Erros ao tomar antibióticos que
têm horários determinados para ingestão também são muito comuns. Segundo Gomes,
esses horários marcam a duração do medicamento dentro do organismo. Ao fim de
cada intervalo, eles foram absorvidos ou excretados por completo. “Quando esse
período acaba, eles param de fazer efeito. Para serem eficientes, devem ser
tomados no mesmo horário e ministrados em cada intervalo, que varia entre 6h,
12h e 24h, dependendo da tecnologia de cada medicamento. Não seguir o
cronograma pode até intensificar o poder das bactérias”, completa.
Uma mania muito comum é partir
os medicamentos ao meio para facilitar a ingestão. “Existem remédios que tem
divisão própria no comprimido, o que indica que podem ser repartidos, pois não
haverá comprometimento da dosagem medicamentosa. Mas os remédios que não têm
essa divisão não devem ser cortados ao meio. Alguns medicamentos são
desenvolvidos para se dissolverem aos poucos; logo, cortando-os ao meio
acaba-se prejudicando seu efeito. Sem contar que a dosagem correta pode ser
perdida no processo de partir”, explica Aligieri. E nada de deixar os
remédios dissolvendo na boca. Isso só pode ser feito caso eles sejam
apropriados para tal. Caso contrário, os efeitos medicamentosos acabam
perdidos.
Em relação aos cremes e às
pomadas, que são facilmente removidos pela roupa ou por contato, o ideal é
deixar que sejam absorvidos por 30 minutos antes de se vestir ou de deitar para
dormir (quando há risco de a região entrar em contato com o travesseiro ou a
cama).
As recomendação para cada
medicamento são muito diversas quanto aos mais diferentes aspectos, portanto,
sempre siga corretamente orientações do médico ou da bula para garantir a
eficiência máxima com o tratamento. Fonte: drauziovarella
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