Quando o consumo de suplementos é realmente necessário
Nós médicos temos visto hoje, com certa frequência, o uso de
polivitamínicos e minerais de maneira indiscriminada. Muitos na tentativa de
freiar o envelhecimento, ou até mesmo rejuvenescer, outros na crença de que o
fato de tomá-los impedirá o surgimento de várias doenças.
É fato, sem dúvida, que todas as vitaminas e minerais cumprem funções vitais para o perfeito funcionamento do
nosso corpo e suas deficiências trarão prejuízo à saúde.
Porém, a questão a ser debatida, é se o uso deles em doses extras, às
vezes até exagerada, poderá trazer alguma proteção a mais para nosso organismo,
levando à uma longevidade com mais saúde. Primeiro, acho importante diferenciar
os conceitos de dose complementar, suplementar e megadoses de vitaminas e
minerais.
Consideramos uma dose complementar de vitaminas e/ou minerais apenas uma
pequena quantidade que completa aquilo que o paciente pode estar deixando de
ingerir no dia a dia, por uma alimentação desequilibrada ou insuficiente. Para
compensar esta possível insuficiência de minerais e vitaminas numa alimentação
desbalanceada surgiram polivitaminicos compostos por vários minerais e
vitaminas, porém todos em doses pequenas, apenas para completar o que faltou na
alimentação.
Nestes casos, não existe o risco de excesso, desde que tomado na dose
recomendada pelo fabricante. Aqui fica um alerta para pessoas que compram
polivitamínicos importados, principalmente dos EUA, onde a legislação permite
altas doses de vitaminas e minerais em cada cápsula, muitas vezes 10 a 20 vezes
mais que a dose total recomendada por dia.
Nestes casos há o risco de excesso, gerando riscos.Consideramos doses
suplementares de vitaminas e/ou minerais quando queremos corrigir uma
deficiência específica, já instalada, sendo esta dose maior que uma dose apenas
complementar e chamamos de dose medicamentosa, como por exemplo a prescrição de
sulfato ferroso para tratar uma anemia por deficiência de ferro e neste caso
não há risco de excesso, pois o organismo está necessitado deste mineral, já
que existe uma carência deste, mas ao ser corrigida a deficiência este
tratamento deverá ser suspenso e à partir daí pode ser prescrito um
polivitamínico com doses baixas para completar e até mesmo prevenir uma nova
deficiência vitamínica.
Já as megadoses de vitaminas e minerais são doses bem elevadas, muito
acima dos limites recomendados, e só podem ser prescritas estritamente por
médicos, como o caso de doses elevadas de vitamina B3 (ácido nicotínico) para o
tratamento da hipertrigliceridemia (elevação dos triglicérides). Neste caso, a
vitamina virou medicamento e como tal pode ter riscos de efeitos colaterais e
também ser contra indicada para determinados pacientes.
Compreendido então as diferenças acima, vou dar exemplos de situações
onde são indicados complementos, suplementos ou megadoses de vitaminas:
- Indivíduos
que fazem atividade física intensa e com frequência devem tomar doses
suplementares de vitamina C (até 500 mg /dia ), pois durante a atividade
física intensa há produção endógena excessiva de radicais livres (stress
oxidativo) e deverá haver uma produção compensatória de enzimas
antioxidantes, entrando aí a vitamina C com esta finalidade, já que a
mesma é utilizada para a produção destas enzimas. Neste mesmo grupo de
pessoas também pode ser interessante tomar doses complementares de
vitaminas do grupo B, como tiamina, riboflavina, niacinamida, ácido pantotênico
e piridoxina, pois todas elas são utilizadas intensamente pelas células na
produção de energia, o que ocorre mais intensamente durante atividades
físicas extenuantes
- Mulheres
que pretendem engravidar devem fazer uso prévio de doses suplementares de
ácido fólico ( 5 mg / dia ) já alguns meses antes de iniciar a gestação,
com orientação do ginecologista/obstetra, já que isto diminui o risco de
má formação fetal. Já as gestantes devem fazer uso de suplementos de ferro
para evitar a anemia durante a gestação, pois ficam vulneráveis à esta
condição
- Vegetarianos
estritos devem tomar doses complementares de vitamina B12 para evitar a
carência a longo prazo deste nutriente
- Mulheres
que entram na menopausa devem fazer uso de doses complementares de cálcio e
vitamina D para diminuírem o risco de osteoporose
- Tabagistas
inveterados devem fazer uso de doses suplementares de vitamina C (pelo
menos 500 mg/dia) pois estes têm uma produção exagerada de radicais livres
à nível pulmonar elevando o stress oxidativo (oxidação) deste órgão, sendo
a vitamina C um importante antioxidante. Neste mesmo grupo de tabagistas
deverá ser evitado o uso de suplemento vitamínico de betacaroteno, pois
esta associação mostrou um maior risco de câncer pulmonar, segundo estudos
já publicados anteriormente. Indivíduos que fazem uso crônico de bebidas
alcoólicas em doses elevadas devem tomar doses complementares de vitaminas
do complexo B, pois neste grupo há tendência de deficiência de algumas
delas, especialmente a tiamina
- Idosos
que vivem em asilos e que dependem de cuidadores para se exporem ao sol e
nem sempre recebem este cuidado com frequência, podem necessitar de doses
complementares de vitamina D
- Crianças
que nascem de mães desnutridas ou em regiões de população de baixo nível
econômico e endêmicas para deficiência de vitamina A devem receber injeção
intramuscular de megadoses desta vitamina, para evitar deficiência
imunológica e perda da visão dos recém nascidos
- Doses
suplementares de vitamina C (até 500 mg/dia) podem facilitar a eliminação
de ácido úrico pelos rins, facilitando o controle deste em pacientes com
hiperuricemia (elevação do ácido úrico no sangue)
- Carências
específicas de determinadas vitaminas ou minerais, por baixa ingesta,
interação medicamentosa ou por doenças específicas devem ser avaliadas e
tratadas após avaliação médica especializada.
Excluídas as condições onde há indicação de doses complementares,
suplementares e megadoses de vitaminas ou minerais, quais os riscos do uso
indiscriminado destes? Darei alguns exemplos para ilustrar esta pergunta. Os
riscos começam pela interação entre as próprias vitaminas e minerais, quando
doses excessivas são utilizadas com frequência, conhecido como interação
nutriente-nutriente. Por exemplo, doses altas de zinco podem diminuir a
absorção do ferro e do cobre, gerando risco de deficiência destes.
Megadose de vitamina D pode causar elevação excessiva dos níveis
sanguíneos de cálcio (hipercalcemia) e até atingir níveis tóxicos com riscos
graves à saúde. Polivitamínicos que contenham ferro são contra indicados em
pacientes com hiperferritinemia, já que estes já possuem níveis elevados de
ferro no organismo.
Doses elevadas de vitaminas e minerais antioxidantes (vitaminas A,C,E,
betacaroteno, selênio, zinco, cobre, manganês) por tempo prolongado podem
piorar a eficiência do sistema imunológico, já que quando um anticorpo se
depara com uma bactéria invasora ele só consegue eliminá-la através da ação de
uma enzima chamada mieloperoxidase, que tem efeito altamente oxidante sobre o
invasor, ou seja, neste caso é a oxidação da bactéria que causa sua morte e
então o uso frequente de altas doses de vitaminas e minerais antioxidantes pode
prejudicar esta defesa natural.
Doses elevadas e contínuas de vitamina K podem alterar a coagulação
sanguínea e desencadear quadros de trombose vascular. Vitamina A em doses altas
e por tempo prolongado pode desencadear quadro grave de elevação da pressão
intracraniana, podendo levar ao óbito. Altas doses de vitamina C ( acima de 5
gramas / dia) podem aumentar o risco de pedra nos rins.
Fica então claro, por tudo visto acima, que o uso de vitaminas e
minerais deve ser orientado por profissionais especializados. Doses
complementares podem ser prescritas por nutricionistas e médicos, porém doses
mais altas - suplementares ou megadoses - por serem consideradas doses
medicamentosas devem somente ser prescritas por médicos, após avaliação
individualizada de cada paciente, definindo a dose adequada, o tempo de uso e
até mesmo respeitar as contra indicações, quando existirem, pelo risco de efeitos
colaterais, como qualquer medicamento.
Para encerrar o artigo não há riscos de excessos de vitaminas e minerais
quando ingeridos pelos alimentos, pois nosso organismo elimina naturalmente
aquilo que não mais será necessário para a manutenção das funções celulares. A
melhor maneira ainda de se prevenir de uma carência de vitaminas e minerais é
ter uma alimentação saudável, variada e composta
por todos os grupos alimentares. Fonte: minhavida
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