Uso inadequado de
medicamentos pode causar overdose acidental
Diferente de nossos
antepassados, hoje em dia qualquer um encontra na farmácia alívios químicos
para grande parte dos males que sempre afligiram a humanidade. Temos compostos
eficazes para aliviar dor, coceira, tonturas, infecções e até tumores - e o livre
acesso a alguns destes compostos muitas vezes passa a impressão de que eles são
seguros. Mas se há alguma verdade na farmacologia, ela pode ser resumida pela
frase: a diferença entre o remédio e o veneno é a dose.
Tome-se
como exemplo o paracetamol, um anti-inflamatório comercializado livremente
desde 1955 como a alternativa "segura" ao ácido acetilsalicílico. Nos
EUA, registram-se mais de 100 mil overdoses/ano com esta droga, sendo que 56
mil demandam atendimento médico e 500 pessoas morrem. E isto vem piorando tanto
que o FDA (Food and Drug
Administration) tomou a iniciativa de limitar a dose máxima por
pílula como forma de conter esta epidemia. No Brasil, dados do Sinitox revelam
que em 2011 foram registrados 29.178 casos de intoxicação por medicamentos,
tornando esta a principal causa de intoxicação por agente tóxico de qualquer
natureza.
Mas
como as pessoas se intoxicam? De vários modos, a maior parte deles acidental,
por desconhecimento dos riscos de cada composto. O consumidor comum não tem
preparo ou hábito de ler bula, então, uma pessoa gripada pode tomar um
comprimido de paracetamol para dor e outro para congestão nasal, sem saber que
o segundo contém uma dose plena da mesma droga. Isto é frequente no
consultório.
Outro
modo de se machucar adviria do desconhecimento das vias metabólicas que nosso
corpo usa para controlar a quantidade de droga circulante e seus efeitos. O
maior exemplo disto é o anticoagulante warfarina, cujo nível sanguíneo é muito
facilmente afetado por qualquer medicação ou mudança na dieta, causando
sangramentos às vezes muito importantes.
Mas
isso é apenas a ponta do iceberg. Mesmo lendo bulas, pessoas podem
involuntariamente se colocar numa situação de risco misturando drogas com
"produtos naturais". O público em geral tem a falsa noção de que
natural significa inócuo. Cabe lembrar que grande parte da farmacopéia
ocidental originou-se de produtos naturais. O ácido acetilsalicílico vem da
casca do salgueiro, a digoxina, de uma flor, a penicilina, de um fungo, o
captopril, do veneno da jararaca e assim por diante. Não bastasse isso, até
frutas e legumes podem interferir com drogas e provocar intoxicações
involuntárias. Um dos casos mais notáveis é o da toranja, fruta muito apreciada
no hemisfério norte e que interfere na metabolização de pelo menos 85
medicamentos, que variam de remédios para o coração como o verapamil a antibióticos como a eritromicina ou imunossupressores
como o micofenolato. Há diversos casos graves e fatais de intoxicação
involuntária decorrente da ingesta simultânea de uma droga e este suco. E não
vamos nem falar sobre consumir álcool com medicações, pois além de um capítulo a
parte, isto é quase que pedir para tomar na cabeça. Álcool e remédios
essencialmente não combinam em nenhuma situação.
Que
situação não? Você busca um remédio para melhorar e sem saber, pode estar se
submetendo a um risco de vida involuntário. Como evitar isso? A peça chave para
sua segurança é a compreensão de que não há remédio seguro, o que há são
limites seguros para o consumo destes compostos. Estes limites envolvem doses,
horários, combinações, estado de saúde, controles sanguíneos e vários outros
quesitos, todos relevantes e potencialmente perigosos.
Portanto,
jamais se automedique ou combine drogas sem uma orientação específica para
fazê-lo. Medicar alguém corretamente já é muito difícil para pessoas que passam
a vida estudando o assunto, imagine para quem nem sabe que o assunto existe.
Não deixe de consultar o seu médico. Encontre
aqui médicos indicados por outras pessoas. Fonte: minhavida
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